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Trabalho versus Emprego

por Mammy, em 22.02.12
Li, num blogue famoso, relativamente a alguém que estava na rua a pedir esmola e a fumar um cigarro em simultâneo, que a vontade que a blogger teve perante tal cenário foi "apagar o cigarrinho na testa" da pessoa que lhe pedia dinheiro e dizer-lhe "vai mas é trabalhar, pá!"
Mais adiante, num comentário, ela diz que as pessoas querem é um emprego e não um trabalho.

Não vou criticar ou julgar a blogger, não é essa a minha função e, como já disse aqui, detesto maledicência.
No entanto, estas observações fizeram-me pensar e cheguei à conclusão que a grande maioria das pessoas tem um conceito bem diferente do meu do que é um trabalho ou do que é um emprego. Não quero, com isto, dizer que eu é que estou certa e os outros errados...

Para mim, um emprego é, tão só, uma troca de serviços entre uma entidade empregadora e um empregado, onde o empregado faz o que lhe ordenam em troca de um salário. Num emprego, o envolvimento do empregado é praticamente nulo, ele não contribui com ideias, criatividade ou qualquer outro cunho pessoal na sua actividade. Ele faz o que lhe mandam e recebe (pouco ou muito) dinheiro em troca.
Um trabalho é diferente, o empregado faz o que gosta, envolve-se, treina, trabalha para ser melhor, dá novas ideias e, por vezes, recebe dinheiro em troca.
Penso que muitas pessoas acham que há gente que não quer trabalhar e eu acho que há gente que não quer é trabalhar naquilo que não gosta de fazer.
Pessoalmente, eu não quero um emprego, quero um trabalho, quero algo que me entusiasme e que me dê "pica", que me faça superar-me e, só vou querer um emprego quando se esgotarem todas as hipóteses de arranjar um trabalho. É mais que óbvio que quero ser paga pelo meu trabalho (e bem paga de preferência), mas quero essencialmente uma actividade que seja um desafio com objectivos concretos, mas um desafio. Não gosto de "queimar" horas no local de trabalho, gosto de avançar e de fazer coisas, gosto de me sentir produtiva. Para "queimar" horas, queimo-as sentada no sofá, na rua ou numa esplanada, a ler, a ver televisão ou, simplesmente, a olhar para o ar.
Também não gosto de fazer coisinhas que não me interessem e, pelo menos para mim, um emprego é um recurso de última instância, é porque tem que ser e porque não se pode viver do ar.

Voltando à opinião da blogger em causa, ela também fala dos punks que vê na rua a fazerem bolas de sabão e a pedirem dinheiro por isso. Critica-os e duvida se serão, ou não, merecedores das moedas que pedem.
Eu acho que quem decide se eles são merecedores das moedas é o transeunte ao dar-lhes, ou não, uma moeda. O estilo de vida que levam é lá com eles e se não fizerem mal a ninguém, ninguém tem nada a ver com isso. 
É por opiniões como esta, que os artistas são tão mal vistos pela sociedade. Artista que não é reconhecido publicamente, é encarado como marginal. Seja músico, actor, pintor ou artista plástico, se não tem dinheiro e notoriedade é discriminado. Dizem que não trabalham, que não querem trabalhar e que só andam na boa vida, mas quando ganham notoriedade já são visto como estrelas, já os bajulam e já lhes lambem as botas com todo o prazer. 


Tenho um amigo que é faquir, é bom naquilo que faz e é artista de rua. Se trabalha? Trabalha e trabalhou muito para ser tão bom na sua arte. Vive essencialmente das moedinhas que lhe dão. Se as merece? Podem crer que merece! Se lhe perguntarem se ele quer um emprego, aposto que dirá que não! Aposto que prefere fazer aquilo de que gosta, ser livre, criativo e superar-se na sua arte. E podem ter a certeza que isso dá trabalho!


Trabalho não é só estar fechado num escritório oito horas por dia, não é só passar os códigos de barras dos produtos num supermercado, não é só varrer ruas, ou ir a reuniões cheias de gente engravatada, trabalho é sobretudo fazer-se aquilo de que se gosta e, de preferência, receber-se por isso. 


Quando não se gosta daquilo que se faz, faz-se o mínimo indispensável e, isso sim, não passa de um emprego!


Talvez eu esteja muito perto de querer um emprego, porque os verdadeiros trabalhos escasseiam, porque não tenho jeito para nenhuma arte em especial e porque não se pode viver do ar...

publicado às 00:42


1 comentário

De maria teresa a 22.02.2012 às 16:47

Aquilo que costuma escrever dá-me que pensar e gosto disso.
Na generalidade concordo com a distinção que faz entre emprego e trabalho, vai pela via do que é "agradável" mas a noção, bastante generalizada,é a outra...
Indo por uma ou por outra, todos sabemos que há quem não queira nem trabalho,nem emprego.
Pessoalmente sempre tive trabalho (tal como o descreve e senti-me realizada nesse campo), actualmente embora aposentada e fazendo outras coisas que fui "deixando" para quando estivesse nesta situação, tarefas agradáveis, o que não sei é se não terei de arranjar um emprego:):):)
Desejo que continue a ter trabalho e que nunca precise de um emprego, embora perceba que não é Mulher para se deixar vencer.
Abracinho meu!

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