Extraio inspiração não só dos livros que outros escrevem como dos banhos que tomo.
Pudesse eu escrever nos azulejos embaciados do duche os textos que me assaltam enquanto lavo os pés ou esfrego o cabelo, construiria prosas de beleza inolvidável.
No instante em que deixo o meu corpo à mercê da chuva quente do banho, frases escorreitas deslizam no meu cérebro com uma fluência assombrosa... sem, porém, terem por onde se revelar.
Não fosse eu ter que sair de debaixo de água para evitar o encarquilhar da pele, e as paredes do duche serem impermeáveis aos meus pensamentos, escreveria um mundo ensaboado em gel de banho e champô.