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O Menino Triste Anda Menos Triste

por Mammy, em 30.04.12
Hoje, o menino triste da escola do J. aproximou-se de mim, através das grades da escola e disse-me de sorriso rasgado:
-Olha, a mãe do J.!
-Olá! Tudo bem?- perguntei.
-Olá! Tudo bem!
E voltou saltinte para a brincadeira que tinha interrompido para me cumprimentar...
Hoje, os olhos dele brilhavam e o meu coração ficou contente!

publicado às 22:44

Lucas

por Mammy, em 30.04.12
Entrei no comboio. O lugar que encontrei para me sentar era ao lado de uma senhora que lia um livrinho pequenino, dos de bolso, a menos de um palmo do nariz.
Sentei-me. Tirei o meu livro do saco e imitei-a, mas com o livro um pouco mais longe dos olhos.
Nos phones, ouvia Manu Chao. No livro, as crónicas de António Lobo Antunes.
Pelo canto do olho, vejo os lábios da senhora a moverem-se. Se tirasse os phones talvez a conseguisse ouvir.
Não tirei, mas espiei a margem superior do seu livrinho pequenino, de bolso.

"Lucas", li.

Voltei ao meu livro. Devorei a crónica "Jaime" com um sorriso nos lábios e uma lágrima indecisa no olho. Podia aquele Jaime ser o meu avô? Podia, mas não era, era outro, que emocionou tanto o autor, quanto o meu avô me emocionou a mim.

Não consigo ler Lobo Antunes noutro sítio, senão no comboio. As palavras dele têm que ter sempre como pano de fundo uma paisagem fugidia e o trepidar do comboio a embalar-me. Doutra maneira, não consigo.

A senhora rezava, sim ela lia a Bíblia em tom de reza, baixinho, só para ela. Havia um terço escondido numa das mãos... Seria medo da viagem? Ou do que a esperava à chegada? Ou nem sequer seria medo, mas a procura de algum conforto?

Olhei para nós...
As palavras do seu Deus comoviam-na e, no entanto, ela segurava-o nas mãos.

Vi-nos ali tão iguais...

publicado às 17:09

Quando as Cabeças de Uns são os Degraus de Outros

por Mammy, em 27.04.12
O humilhador compulsivo é, na sua grande maioria, profundamente frustrado e também já foi, talvez em tempos, muito humilhado. Mas este facto não lhe dá legitimidade, nem desculpa, para utilizar as fraquezas dos outros como fonte de alimentação da sua fraca auto-estima.

O humilhador compulsivo aproveita o mínimo deslize, daquele que julga ser melhor do que ele, para se engrandecer e para se ver subir na escala por ele próprio delineada. No fundo, ele detesta-se, sente-se medíocre e a única forma que encontra para combater o ódio que nutre por si próprio, é rebaixando os outros, é denegrindo a imagem dos outros. 
Geralmente, ataca quem julga mais susceptível, apesar de melhor no seu entender, susceptível, para que a sua relativa e suposta grandeza seja observada por quem deseja impressionar e, por si próprio. Ridiculariza, despreza e corrói os sonhos e aspirações de alguns para se sentir poderoso e tirar do chão o seu amor-próprio quase inexistente.

Às vezes, escolhe crianças como vítimas da sua cruel humilhação, e escolhe-as porque são susceptíveis. E, sem sequer se aperceber, diminui-se, reduz-se a qualquer coisa ainda mais baixa do que aquilo que sente. No uso de uma autoridade exagerada e ridícula, vê a sua ascensão suprema, que na realidade não passa de um amontoado de complexos de inferioridade que ganham corpo e voz de gente.

Se, pelo contrário, tentasse aproveitar as qualidades que tem (porque os humilhadores compulsivos também têm qualidades, só não estão é conscientes delas) para se afirmar e para se aceitar, acabaria por se sentir melhor e escusaria de maltratar os outros injusta e impunemente.

Ele crê que só olhando os outros de cima, pondo-os para baixo, pode atingir um nível superior, o que não é de todo verdade, pois ele pode olhar os outros de frente se tiver consideração e se gostar do "eu" que tanto o revolta.

No entanto, e apesar da carapaça de ferro que ostenta, ele é extremamente frágil e, ao mínimo abanão, parte-se com facilidade.
Quando as cabeças dos outros, que ele pensa serem degraus, se viram, deparam-se com mil cacos para apanhar, que apanham, num derradeiro gesto de altruísmo e piedade. E o ser humilhador, que não mais precisa senão de colo e valorização, fica tal e qual um menino implorando por um pouco de amor...

publicado às 18:11

Amor-Perfeito

por Mammy, em 26.04.12
Se antes de ser mãe sonhei em vir a ser uma súper mãe ou situar-me o mais próximo possível da perfeição. Actualmente, tenho vindo a  mudar a minha visão relativamente ao perfeccionismo neste papel.

Hoje, acho importante sermos imperfeitas. Mostrar as nossas fragilidades, erros e autenticidade é essencial nas mães (e nos pais). 
Não me custa admitir que errei, nem dizer que não sei, afinal não sou nenhuma Deusa, sou humana, e penso que é crucial o meu filho ver-me como tal.
Sei que ele me toma como barómetro da gravidade das situações. Sei que ele vê em mim se tem ou não que se preocupar com determinados acontecimentos e, por isso, pode tornar-se necessário ocultar-lhe algumas emoções menos positivas que sinta, mas apenas para o proteger de preocupações desajustadas à sua idade.
Por vezes, consigo fazer este exercício... Outras vezes, ele decifra na minha expressão facial tudo o que me vai na alma. 

Num dia destes, disse-me:
- Mãe, porque estás com essa cara?
- Só tenho esta!
- Não, tens a a rir, a zangada e a assim!
E era verdade, a minha cara assim, era uma cara de preocupação, que ele já sabe tão bem distinguir de todas as outras minhas caras. Sou expressiva mesmo contra a minha vontade e ocultar emoções não é o meu forte, mas se algumas vezes sinto necessidade em evitar preocupá-lo com aquilo que me perturba, outras acho que ele deve estar consciente que existem coisas que nos fazem pensar, duvidar e até errar.

Não sei tudo, nem faço sempre o que é mais correcto, falho várias vezes e acho importante que ele tenha essa percepção para que não tenha uma imagem de mim como alguém infalível ou divino. Imagem esta, que ao mínimo descuido, se desmoronaria facilmente e me desacreditaria completamente perante os seus olhos, provocando-lhe uma desilusão profunda e de difícil recuperação. Tal como não acredito que mascarar-se demasiado a realidade aos olhos das crianças, com fantasias idiotas, contribua com algo de positivo para o seu crescimento e evolução, também não acredito que fomentar-se uma imagem de pais omnipotentes lhes possa proporcionar um crescimento mais saudável.
Penso que o meio-termo é o objectivo a alcançar. Talvez não seja sempre possível, talvez até seja o mais difícil de conseguir, mas acho que se os nossos filhos perceberem precocemente que somos humanos, que também falhamos, mas que as nossas intenções são sempre as melhores no que lhes diz respeito, poderão aceitar-nos com maior facilidade, sem ressentimentos, sem mentiras, com amor-perfeito, que afinal é repleto de imperfeições...

publicado às 17:33

Agamémnon - Vim do Supermercado e Dei Porrada ao Meu Filho

por Mammy, em 23.04.12
Mais uma vez, fui ao teatro e trouxe de lá uma história para pensar.
Não só sobre o conteúdo em si, pois o assunto que aborda já anteriormente preenchia as minhas dúvidas, exaltações, indignações, mas sobre a forma como parte do público encara o teatro.

A peça é pesada, mexe connosco, utiliza elementos tabu como crianças, comida, livros, palavrões. Elementos estes que não nos deixam indiferentes e fazem-nos pensar, fazem-nos remexer nas nossas vidas , interrogarmo-nos sobre o que andamos aqui a fazer e sobre o significado de um mundo industrializado demais, capitalista demais, onde apenas consumimos e não criamos nada, porque já está tudo criado, pronto a digerir o mais rapidamente possível e antes que arrefeça, pois mal arrefeça passa a ser inconsumível.

No final da peça, tivemos a oportunidade de ter uma conversa com o actor (Gonçalo Waddington), o encenador (John Romão) e a assistente de encenação (Solange Freitas). Fizeram-se perguntas, cujas respostas foram extremamente esclarecedoras para mim, porque me deram a conhecer outras perspectivas do que tinha acabado de ver. Mas alguns elementos do público, revoltados com a presença das crianças, da comida e dos livros, deixaram-nos perceber que devem ter-se enganado na porta e que o lugar para onde se tinham preparado para ir não era o teatro, talvez o cinema, onde assistiriam a uma comédia romântica sensaborona que os faria rir ou chorar por segundos e de que se esqueceriam no momento preciso em que entrassem no carro de volta às suas vidas insípidas.

Não sou especialista em teatro (já o disse aqui), mas cada vez, o aprecio mais. Cada nova peça a que assisto e que mexe comigo, faz-me sentir mais rica, cultural e humanamente mais rica. Gosto de vir cheia de dúvidas e de respostas e as respostas não precisam de ser àquelas dúvidas, podem ser a outras que já moravam na minha mente há algum tempo.

E choca-me, isso sim choca-me, que haja gente que sai do teatro igualzinha ao que era quando lá entrou, que não cresça nem um bocadinho, que não aproveite a experiência que acabou de vivenciar... 

Devo informar essas pessoas que, como eu, foram ver esta peça, mas que, por alguma razão que desconheço, não a viram realmente:

- O Teatro não nos deixa incólumes, deixa marcas... Marcas que, de preferência, serão para sempre! 
   Para a próxima, não digam que não vos avisei!

Imagem descaradamente roubada do perfil de
Gonçalo Waddington no Facebook

A quem interessar, esta peça está em cena até 28 de Abril, no Teatro da Politécnica.

publicado às 18:09

Chuva

por Mammy, em 19.04.12
Sou mulher do Verão. Gosto do calor, de o sentir entrar-me pelos ossos adentro, de andar o mais despida possível, leve e com os músculos distendidos.
Detesto o frio. Fico encarquilhada, contraída, com demasiada roupa.

Mas a chuva seduz-me... Adoro andar à chuva, senti-la lavar-me a roupa, o corpo e a alma. 
Quando era pequena, perdia um guarda-chuva quase todas as semanas de Inverno e voltava para casa à chuva. Ficava encharcada, mas feliz. A sensação da roupa colada ao corpo, fazia sentir-me bem.

Tenho saudades de me molhar sem nem dó nem piedade, de enfrentar o caminho regada pelas lágrimas do céu, de pôr a língua de fora e bebê-las como se só elas pudessem matar-me a sede.
Tenho saudades de ter cabelo a pingar e de sujar a roupa na relva molhada, de me rebolar no chão, sem que alguém me olhe de esguelha ou me chame de louca. Tenho saudades dos pequenos prazeres que encostamos a um canto da nossa vida, porque crescemos e porque a idade adulta nos diz "já não tens idade para isso!".

Como eu gostava de tomar banho no mar em dias de chuva, sentir a água por todos os lados do meu corpo despido e mergulhar... Podia mergulhar no céu que se unia ao mar e no mar que me levava, a cada onda. Sentia-me limpa por dentro, como se a água entrasse no meu ser e o lavasse.

Tenho saudades da inocência e da ingenuidade de criança, tenho saudades da Vida verdadeira...

...e da Verdade da Vida.

publicado às 17:25

A Língua e a Gente

por Mammy, em 18.04.12
Hoje, quando fui buscar o J. à escola, "apanhei" os meninos do pré-escolar a saírem e a serem entregues aos pais por uma senhora que penso que seja a auxiliar da educadora de infância (não sei qual é nome técnico).
A dita senhora pegava nos miúdos, um a um, e entregava-os aos respectivos pais. Até aí, tudo bem!

Chega a vez de um certo menino e ela, quando o entrega à mãe, diz a título de recado:
-Hoje devias de levar que portastestes mal!
Aquilo caiu-me tão mal! Além de estar, literalmente, a assassinar a nossa querida língua que não tem culpa nenhuma que o miúdo se tenha portado mal, estava a incentivar a mãe a bater-lhe e a ameaçá-lo indirectamente.
Mas a senhora não se ficou por aqui... Continuou a atirar em todas as direcções:
- Oh Nãoseiquantos, larga a árvore! Olha, que eu vou dizer à Iana que a estragastes!
Mais uma ameaça e, desta vez, acompanhada de chantagem! E a língua, coitada, já jazia inerte no chão e implorava para não a maltratarem mais.

E claro, eu fiquei a pensar (tens que te deixar dessa estúpida mania de pensares em tudo, mulher!) que o ensino e a educação daquelas crianças devem ser de altíssima qualidade e que o Ministério da Educação está a apostar forte em pessoal qualificado! 
Bravo!!!

publicado às 23:26

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