Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aqui, fala-se de filhos e de tudo o resto...
Já o J. estava na cama, digo-lhe:
- Olha, vou deixar aqui na tua mesa, ao lado do saco do treino, um saco para a avó levar amanhã. Por isso, não te espantes quando o vires.
- Um saco? O que é que tem?
- É a minha cabeleira para a avó levar.
- Para que é que ela quer a tua cabeleira?
- Para dar à I.
- A I. também tem cancro? E quer a tua cabeleira?
- Tem. A cabeleira é para ela ver se quer e se gosta.
- Porra, mãe, tanta gente tem cancro!
- Pois é, é mesmo muita gente.
- E é sempre no cabelo...
- Não é no cabelo, é noutros sítios, mas muitas pessoas ficam sem cabelo.
- Porque é que o cancro faz cair o cabelo?
- Não é o cancro que faz cair o cabelo, é um medicamento para matar o cancro.
- Ah, então se a pessoa cortar o cabelo todo, deixa de ter cancro?!
- Não, J., a pessoa não fica boa por ficar sem cabelo. A pessoa fica boa porque o medicamento que faz cair o cabelo, mata o cancro.
- E se a pessoa não tomar esse medicamento?
- Morre. Pode morrer...
- Não há outros medicamentos?
- Agora já descobriram outros, mas há cancros em que ainda só este é que funciona.
- No outro dia, vi o T.A.. Ele anda sempre de gorro na cabeça. Também tem cancro, não tem?
- Tem.
- Porque é que ele está sempre de gorro? Não gosta de se ver sem cabelo?
- Provavelmente... Ou então tem frio na cabeça. Como ele tinha o cabelo grande, é capaz de ser por causa do frio. As pessoas que não estão habituadas a ter o cabelo curto, quando o cortam, ficam com frio na cabeça.
- Ah!
- Boa noite, menino, dorme que já é tarde. Dorme bem!
- Boa noite, mãe! Até amanhã!
O amor é, assim, uma coisa meio estranha de se explicar... Esconde-se-nos nas entranhas e vem à superfície em momentos de que não estamos à espera. Às vezes, um gesto, uma palavra, um olhar, um cheiro, dizem tudo. Às vezes, um gesto, uma palavra, um olhar, um cheiro, não dizem nada. Ou dizem que nada se passa ali. Às vezes, basta uma coisinha minúscula para nos apercebermos que o amor se foi. Ou uma coisinha minúscula para nos lembrar que ele sempre esteve ali.
Às vezes, olho para este homem e sinto o coração encher. Como se o insuflassem com uma bomba de encher pneus, o coração cresce, cresce, cresce.
Acontece-me especialmente quando o cheiro, mas também quando o oiço dizer coisas tão certas que me fazem estremecer. Este homem enche-me o coração de amor e o corpo todo de orgulho, quando se sintoniza no mesmo posto que eu. E não são raras as vezes que isso acontece.
Ao fim de tantos anos juntos, seria de esperar uma repetição contínua de momentos. A verdade é que as há, claro que há. Mas também há momentos mágicos, em que aquela pessoa que está ali à nossa frente, e que conhecemos tão bem, nos surpreende, nos fascina e nos toca no ponto G da alma.
Há já algum tempo que temos por hábito discutir algumas questões filosóficas... Uma das mais recorrentes é "o que é a arte".
Por sermos ambos ávidos por arte, frequentamos alguns meios artísticos com prazer e, infelizmente, temo-nos deparado com ambientes artísticos demasiado elitistas e círculos completamente fechados ao público em geral. De tal modo fechados que quase só lá entram o autor e convidados. Estes locais têm-nos deixado perplexos e francamente decepcionados com o modo de como a arte é tratada neste país.
E aí "vem-nos à memória uma frase batida": o que é a arte afinal?
Será algo super elaborado que tem de ser explicado para o comum dos mortais entender? Ou será aquilo que nos chega e nos toca, que nos diz qualquer coisa, boa ou má, mas que mexe connosco?
No meio desta nossa habitual discussão, este homem diz "a arte vem de dentro!"
E diz tudo. A arte vem de dentro de quem a cria e de quem a contempla. É assim, meio como o amor...
A arte não se explica. Vem de dentro!
Giras, giras... Super mega fan-tás-ti-cas!
Belíssima, não?
Uma preciosidade!
Hoje ao fim do dia, fui correr com o meu puto. (Ah pois, ele agora já é puto. É que isto de estar quase a fazer dez anos tem destas coisas, o estatuto muda num ápice!)
O puto, além de agora ser puto, corre que se farta e eu, eu vou atrás dele que me lixo! A arrastar-me...
Mas hoje, consegui o maravilhoso recorde de correr vinte minutos seguidos... Hã? Hã? Digam lá que não foi o máximo! Vá, digam lá, atrevam-se a dizer que não foi o máximo, que eu não publico o vosso comentário e pronto, faz de conta que se amedrontaram e perderam a coragem de dizer que não foi o máximo!
É óbvio que foi o máximo!!!!!
É claro que o puto corre sempre mais tempo e mais rápido do que eu, mas enfim, tem menos vinte e nove anos e este é um argumento a que me posso sempre agarrar!
Além de ter aderido à moda das corridas, também ando a dar numa de galinha.
Decoro os pratos com sementes, ora de chia, ora de outra coisa qualquer. Ficam giros, os pratos, todos pintalgados de sementes pequeninas.
Quanto ao resultado das corridas e das sementes, não noto nada. Mas que é fixe andar com os cabelos ao vento (ainda que eles estejam um bocado curtos para o efeito "gaja gira que corre") e comer comidas às pintinhas, lá isso é!
Por fim, e entrando no ponto do "raio c'a parta de como se chama aquela porcaria que as crianças vão ter que fazer no final do quarto ano" já deito aquela merda pelos olhos! E é claro que sou contra e que detesto a ideia do meu filho ter que fazer aquela porcaria. Ainda mais, porque aquilo não tem ponta por onde se lhe pegue e, em vez de exames, ou provas, ou o caneco, aquilo são ratoeiras para apanhar os ratinhos dos nossos filhos.
Assim, enquanto uns vão chumbando no quarto ano à conta daquela bosta, outros vão chumbando no sexto à conta de uma bosta idêntica, e os que chegam à universidade são em muito menor número do que os que lá chegam hoje em dia, o que nem sequer quer dizer que chegarão os melhores. Talvez os mais ardilosos...
É triste, muito triste, ver turmas inteiras a treinar intensivamente para fazer um teste, ou melhor dois, que não testa nada, a não ser se os professores treinaram intensivamente ou não os seus alunos para fazerem aquele cocó de olhos fechados. E enquanto os professores e alunos estão distraídos a treinar aquela merda, ninguém prepara as crianças para a nova etapa que se avizinha (talvez até porque como não vão ser muitos a lá chegar, isso interesse pouco) que é a entrada no segundo ciclo, ciclo este que traz a tira-colo uma carrada de novas disciplinas, um horário mais diversificado a cumprir, um conjunto de novas regras, uma colectânea de professores (mais pequenina do que há alguns anos, já que muitos também foram despachados como os alunos vão ser a partir deste ano) e mais colegas, maiores e mais fortes, a conhecer. E como os professores que não têm turmas de quarto ano e os pais que constituem as associações de pais andam distraídos com as geniais festas de finalistas, que são mais uma das merdices que inventaram para porem as crianças a brincar aos adultos (como se não tivessem tempo suficiente pela frente para encetarem brincadeiras parvas dessas) a preparação dos miúdos para esta nova etapa das suas vidas fica atirada para último plano, porque o que interessa é que cresçam depressa e vão "masé"trabalhar.
Enfim, o ensino está a caminhar a passos largos para deixar de ensinar alguma coisa e passar a apenas formatar os discos cada vez mais rígidos dos alunos e a escola a deixar de ter a função de formar pessoas e passar a ser única e exclusivamente uma linha de montagem de mão-de-obra inculta e barata.
Por isso e a partir de agora, eu e o meu filho, tal galinha e pintainho, vamos mas é dar umas corridinhas e comer sementes, que é bem mais instrutivo do que andarmos preocupados com estas cenas ou "raio c'a parta de como se chama aquela porcaria que as crianças vão ter que fazer no final do quarto ano".
O meu computador morreu.
Sim, morreu! Num belo dia apagou-se! Assim, plim, foi-se! Ficou todo escuro e não acordou mais.
Ando no Magalhães do J., agora. Quem disse que os Magalhães não serviam para nada, hã? É muito bom este bichinho. Parece um caracol, pois faz tudo devagarinho, mas faz. Cá vai fazendo... Abre janelinha aqui, pensa se me mostra o vídeo ou não ali, dá-me um som muito baixinho acolá, mas cá vai andando.
Hoje, lá tive que ir à procura de um computador mais para o meu tamanho.
Nisto da procura e a sentir-me "descomputurada", entrei na onda nostálgica de quando não tínhamos computador em casa. Em conversa com o pai do J., sai-me "naquele tempo em que respondia, orgulhosa, aos vendedores da Meo e da Zon que não tínhamos computador, lembras-te?". E ele lembrou-se. E nós lembrámo-nos. Naquele tempo em que éramos mais felizes... Ele diz-me " naquele tempo em que tínhamos mais tempo..." Eu digo "naquele tempo em tínhamos mais tempo um para o outro..."
Oh, naquele tempo...
Morram os computadores morram! Pim!