Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Outros Festivais

por Mammy, em 24.03.14

Eu - Tenho que ir ver o Eddie Vedder ao Super Bock Super Rock!

J.- Sabes que o Caetano Veloso e os Pixies  também vêm cá?

Eu- Sim, mas eu quero é ir ver o Eddie Vedder!

J.- Eddie Vedder-Eddie Vedder ou Eddie Vedder-Pearl Jam?

Pai - Não há Eddie Vedder-Eddie Vedder e Eddie Vedder-Pearl Jam. Há ou Eddie Vedder ou Pearl Jam.

J.- Sim, mas a mãe entendeu. 

Eu - Sim, entendi. É só Eddie Vedder! 

J. - Também quero ir ver!

Pai - Eu quero ir ver os Pixies. Se fosse Pearl Jam, até preferia a Pixies, mas assim...

J. - Ok, então eu vou ver Pixies e Caetano Veloso com o pai e Eddie Vedder com a mãe!

 

Simples!

 

publicado às 20:29

Eternizar a Infância

por Mammy, em 24.02.14

Nós, pais, sentimos os nossos filhos sempre bebés. Olhamos para eles e vemos o bebé a dormir, as primeiras palavras, os beijinhos cheios de baba, os choros, os primeiros passos... Por maiores que os nossos filhos sejam, serão sempre os nossos pequeninos.

Mas daí a não os deixarmos crescer, vai uma grande distância. Ou devia ir...

 

Crianças de cinco anos que não comem sozinhas, alguma coisa está mal. Miúdos de sete anos que não limpam o rabo sem ajuda, algo está errado. Se aos dez anos não tomam banho e não se vestem sozinhos, o problema é grave. 

O problema grave está nas crianças e nos pais. E o problema é especialmente grave quando vem dos pais. 

 

Perpetuar a infância porque se perpetua a dependência dos filhos em relação aos pais, é proibi-los de crescer, é atar-lhes as mãos e os pés e dizer-lhes "tu, sem mim, não és nada!". E isso é horrível! É tão horrível que ouvimos pais, especialmente mães, dizer que "ele não come se não for eu a dar-lhe!", "sem mim, a minha filha não adormece. Não dá para a deixar em casa de ninguém.". Dizem isto cheias de orgulho. Do mesmo modo que dizem dos maridos "tenho que ser eu a escolher a roupa senão ele vai todo mal vestido para o trabalho!". E os maridos também se orgulham da sua incapacidade de se vestirem sozinhos "se não fosse a minha Maria, eu vestia umas calças aos quadrados com uma camisa às riscas. Ainda bem que tenho uma mulher tão prendada. Não tenho jeito nenhum para essas coisas!". 

 

Quando oiço coisas destas, fico a pensar por que raio de carga de água as pessoas se orgulham de ser incapazes e porque valorizam tanto a dependência umas das outras. Depois penso mais um pouco e interrogo-me se não será pelo medo de perder o outro que se o prende a imbecilidades, como a escolha da indumentário ou do cardápio. Se não será o medo de perder o outro que se o torna dependente nas pequenas coisas, porque nas grandes eles nunca o serão?

Tal como se faz com os maridos, faz-se com os filhos. Não se os ensina a cozinhar, a lavar a própria roupa, a passar a ferro, para que não saiam de casa cedo. Precisam das mães em adultos para lhes cuidarem da casa e lavarem as cuecas. 

 

Isto é triste, porque se confunde amor com serventia e com dependência.

Maridos e filhos não precisam de mulheres e mães para sejam suas empregadas, precisam de pessoas que os amem. E amar não é escolher a roupa ou lavar as cuecas, amar é dar noções de estética (quando estas não existem mesmo) para que se vistam sozinhos e ensinar os programas da máquina da roupa para que lavem as cuecas sem ajuda. 

 

Amar é tornar o outro independente de nós e mesmo assim ele querer-nos por perto. Amar é voar ao lado, não é partir as asas para que tenham que nos pedir boleia.

publicado às 12:18

Aquilo Que Não Sai

por Mammy, em 20.12.13

Apetecia-me dizer coisas. Escrever coisas. Escrever, escrever, escrever. Mas as coisas não me saem. Parece que se trancaram cá dentro e não saem. 

Vou enchendo e preciso de explodir. Como um balão que cresce com o ar. Estou um balão de coisas para dizer. Mas no silêncio. O silêncio é o meu ar, agora. E enche-me. Enche-me inteira.

Queria a minha vida em palavras. Palavras belas e feias. E belas e feias. Palavras sem fim. Escrever cada letra e formar palavras, e frases, e textos, e contos, e livros. Livros cheios de ar. Do ar das palavras que o vento não leva. Palavras que ficam. Belas e feias. E lê-las. E não gostar delas. E amá-las. E escrever outras.

Queria um mundo de letras. E mergulhar nas palavras dos livros. Viver em livros e histórias. E em pensamentos de papel. Recortar ideias e sonhos e colá-los no papel. Assim, nesta forma que se lê.

Mas essas coisas não me saem. 

 

publicado às 00:11

O Que Desejamos Para os Nossos Filhos?

por Mammy, em 09.12.13

Assim de repente, sem pensar duas vezes, diria "que sejam felizes!". 

Depois olho em volta e não vejo isso nas acções da maior parte dos pais. Não nas de todos, claro, mas nas da maior parte. Olho-os, oiço-os e vem-me à cabeça a palavra "sucesso" em vez de "felicidade". Sucesso nos estudos, no desporto, nas finanças, nas atitudes, nos comportamentos, na vida. Vejo-os gastar tempo e dinheiro, muito dinheiro por vezes, em mil e uma actividades. E tempo a dividir-se em muitos para conseguirem levar os filhos a essas mesmas actividades. Exigem que eles sejam bons em tudo o que fazem. E volto ao sucesso. Paro no sucesso. E fico a meditar a definição de sucesso. 

O que é isso, sucesso? O que isso de se ser bom em tudo, de se saber fazer tudo? Ter infindáveis valências far-nos-á mais felizes? Ser bom far-nos-á mais felizes? 

E desta vez, olho e oiço os filhos, e não me parecem felizes. Resignados, talvez. Mas felizes não.

Vejo crianças como pequenos adultos, cheias de stress para conseguirem dividir a atenção pelas mil e uma actividades que frequentam. Vejo crianças com dificuldades em interessarem-se pela música, o desporto, a catequese, os escuteiros, o karaté, a escola. Vejo crianças que no fundo, no fundo, só querem uma horinha livre para enfiarem a cabeça numa playstation e esquecerem tudo o resto. Vejo poucas crianças brincar. A capacidade de imaginar, de fingir, de inventar está a fugir-lhes. A capacidade de serem crianças está a fugir-lhes. Tento imaginá-las adultas e não consigo ver diferenças daquilo que são hoje, em crianças. 

E uma vez mais, volto ao "sucesso". Será o sucesso sinónimo de felicidade? Tento rever mentalmente pessoas "bem-sucedidas" na vida, por exemplo, profissional, e noto-lhes infâncias bem diferentes daquelas que impingimos aos nossos filhos. Geralmente, foram crianças com uma aptidão que se foi acentuando ao longo dos anos. Foram pessoas que, através de uma grande força de vontade e resiliência, levaram uma paixão ao estatuto de profissão. Não digo com isto que às quais foi dado um mundo de instrução desde tenra idade não chegaram a uma situação de sucesso, também as há, claro que há, mas fico na dúvida se ao darmos uma imensidão de obrigações às nossas crianças, estamos a contribuir para um sucesso que as permita ser felizes. E se é esse sucesso, neste caso o profissional, que as vai tornar pessoas felizes. Fico na dúvida se não estaremos a traçar-lhes caminhos em vez lhos mostrarmos e deixarmos que sejam eles a escolher o deles; se não lhes estaremos a impor um futuro, em vez de os deixarmos amadurecer até terem capacidade para fazer as escolhas que entenderem. Fico na dúvida se o que realmente queremos para os nossos filhos é felicidade e não sucesso e se esse sucesso contribuirá, alguma vez, para que sejam felizes. 

Fico na dúvida...

publicado às 00:47

Parceira de PET

por Mammy, em 06.12.13

Há uns tempos, durante a minha cruzada oncológica, fiz várias PET - Tomografia por Emissão de Positrões.

O exame não é doloroso, no entanto foi dos que mais me custou fazer. Requeria uma longa preparação de jejum e de imobilidade que, para uma pessoa como eu, cujo mau-humor se acentua quando exposta a factores como a fome, o frio e o sono, me deixava para lá do insuportável. Durante as longas horas de preparação só me apetecia bater em toda a gente que cruzasse o meu caminho. Como não o podia fazer, tentava dormir para esquecer a fúria que me invadia.

 

Num destes dias de tortura, dormi durante umas sete ou oito horas numa cama de hospital até me chamarem para a sala, dita, de preparação para o exame. Já tinha uma noite de jejum em cima e estava possessa. 

 

Tal como podem ler na definição de PET que linquei acima, é-nos injectada uma substância radioactiva antes do exame, que nos percorre o corpo e assinala os consumos de glicose anormais das células, uma das características das células tumorais. Antes ainda desta substância radioactiva nos entrar no corpo, dão-nos um relaxante muscular para que não sejam assinalados os normais consumos de glicose da actividade muscular. Depois temos que ficar deitados, calados, imóveis e em jejum até vir o produto radioactivo, encomendado no próprio dia do exame, que demora séculos a chegar. Para que a tortura não seja completa, deixam-nos beber água e fazer xixi.

 

Nesse fatídico dia de extremo sofrimento, quando estava já deitada na sala de preparação, com o relaxante muscular no bucho e a desejar dormir mais um pouco para esquecer a fome, chega a minha parceira de exame. Mulher de uns cinquenta anos, de peruca na cabeça e ligada a uma qualquer ficha que não descobri onde estava. Senta-se na poltrona a meu lado, tira a peruca e diz:

- Ufa, finalmente posso tirar esta porcaria!

Posa-a no colo e começa a falar do seu percurso oncológico. Conta que fez uma data de operações, exames, quimios, radioterapia. Fala sem parar. Vou-lhe respondendo uns "hum, hum", "compreendo", "pois". 

Chega a enfermeira e diz que não podemos falar. A minha parceira cala-se um bocadinho e eu fecho os olhos na esperança que o meu sono a demova de voltar à fala. 

Dali a pouco, volta ao ataque. Fala, fala, fala. Conta tudo ao pormenor. Até que desisto de dormir e decido ficar a ouvi-la. Na verdade, não a oiço muito bem, devido à fome já ter tomado posse dos meus ouvidos, mas decido tentar estar atenta ao que me diz.

 

Durante a sua prosa interminável, fui-me apercebendo que aquela mulher era o maior exemplo de vivacidade que encontrei naquele local moribundo. 

Noutra situação ninguém diria que era portadora de cancro nem que já tinha passado por um infindável leque de exames e tratamentos. Estava pronta para a vida e cheia de positividade. 

Falava comigo como se nos tivéssemos encontrado no cabeleireiro e discutíssemos coscuvilhices da vida de famosos que víamos nas revistas cor-de-rosa que íamos desfolhando, enumerava os órgãos mutilados tal jogador que distribuí cartas para uma nova partida de sueca. Não havia ali um resquício da irritabilidade pela fome que também devia sentir e que, a mim, me atormentava, nem se ralava com a imobilidade ou o silêncio que nos tinham imposto. Falava da vida, da luta do cancro, dos filhos e dos netos da mesma maneira, ao mesmo tempo que ia rodando a peruca nos dedos. Não chorava, nem se queixava das atrocidades que lhe tinham feito. Sorria até. Aceitava, assim simplesmente, todo aquele processo de vida ou morte como se se tratasse de mais um contratempo que lhe foi imposto. 

 

Ao ouvi-la, sentia-me cada vez mais piegas por estar naquele estado, quase incontrolável, de pré-assassinato em massa. 

Eu era a menina mimada, pouco habituada a ser contrariada, e ela uma explosão de energia positiva perante as maiores adversidades. 

Fui encolhendo. Eu, mulher de um metro e oitenta, fique reduzida a meio metro, perante a grandiosidade daquela minha parceira de PET. Sentia-me, a cada palavra dela, mais pequenina e merdinhas. 

Mas, finalmente, pus o cérebro a funcionar, que deve ter registado uma actividade fora do normal na PET, e resolvi ir assimilando o ensinamento daquela mulher. Demorei algum tempo, mas consegui digerir a mensagem que, posteriormente, me deu uma postura diferente perante a doença e os tratamentos que se seguiram.

 

Quando me chamaram para a sala do exame, despedi-me com um sentimento de pena da possibilidade de não a voltar a ver. 

Disse-lhe apenas o costumeiro "boa tarde e as melhoras!" do IPO, mas com vontade de dizer mais qualquer coisa que acabou por não sair.

 

E nunca mais a vi.

publicado às 15:20

Fechar os Olhos

por Mammy, em 06.12.13

Fechar os olhos e sentir os raios de sol que atravessam as pálpebras numa visão vermelha, quase marciana.

Inspirar a brisa que entra narinas adentro e percorre, à pressa, o caminho até ao peito. 

Encher o peito de ar e cheiros. 

Encher a alma. 

Acolher o abraço do calor sol e aconchegar a pele. 

Tentar agarrar o vento com as mãos e sentir os pêlos a dançar. 

 

Inebriar o corpo e o espírito.

De vida.

publicado às 11:08

Voltar à Casa de Partida

por Mammy, em 03.12.13

Estou farta deste jogo. 

Já não quero saltar de casa em casa sem saber quando termina esta partida. Se tenho que recuar três casas,  ir ao castigo, esperar que os adversários joguem duas vezes ou avançar duas casas para depois recuar três, já não me interessa.

Estou farta deste jogo. Quero outro. 

Quero voltar à casa de partida e lançar o dado outra vez.

publicado às 00:35


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

  Pesquisar no Blog