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Trabalho a Favor da Comunidade

por Mammy, em 26.07.14

Eu - J., vai pôr a mesa!

J.- Oh, mãe, não, isso é que não!

Eu - Vai lá, é a tua função nesta comunidade.

J.- Oh não! Então quero mudar de comuna.

Eu - Muda, muda. Vê se arranjas outra comunidade onde que dêem de comer, vestir, amor e carinho como nesta. E onde nem sequer tenhas que pôr a mesa.

J.- Pronto, ok, já vou pôr a mesa!

 

publicado às 14:38

Castelos

por Mammy, em 18.07.14

Ver-te, o tempo todo, a encestar no cesto do quarto, no da rua, nos caixotes do lixo ou num cesto imaginário é ver-me a fazer rodas em todas as ruas sem trânsito e pinos em todas as paredes sem portas ou janelas.  

Sempre que te observo a imaginares jogos em que todos os jogadores és tu, lembro-me dos concursos de ginástica em que todas as concorrentes era eu. Ralho-te, porque é a minha função evitar o exagero e despertar-te para outras coisas, mas sinto essa obsessão que se apodera de nós quando gostamos realmente de alguma coisa. Sinto a força que nos domina e nos faz ultrapassar os limites que o corpo nos tenta impor. E sei que a nossa vida se vai alimentando disso, da transposição de barreiras e da criação de novas, em que vivemos dessa adrenalina e respiramos as nossas secretas vitórias. Uma após outra, como se de tijolos se tratassem, vamos construindo o nosso castelo imaginário, onde somos reis e senhores.

 

Sabes, filho, ainda hoje tenho os meus castelos? Mais pequeninos do que em criança, mais fáceis de construir, mas também menos belos e desejados. 

Às vezes, fico com medo de destruir os teus, pelo exemplo do insucesso dos meus e por não te deixar voar demasiado alto para que, se caíres, não te magoes, tanto. 

E fico com medo de não ser capaz de te ajudar a ser feliz e de fazer tudo errado. Tenho pavor de fazer tudo errado e de te ver perder essa ânsia de construir castelos e de te superares a cada tijolo. 

 

DAQUI

 

publicado às 04:10

Sessenta Anos

por Mammy, em 04.07.14

Sessenta anos. Fazes hoje sessenta anos e eu lembro-me bem de ti com menos de trinta. Mais novo do que eu agora. Quase dez anos mais novo do que eu agora. 

Olho para trás e vejo que o tempo passou sem que nos tivéssemos dado conta. Houve várias vidas que deixámos lá longe, à distância de muitos dias, e de ausências, e de vozes perdidas. Deixámos lá atrás o som da música que ouvíamos, a beleza das paisagens, as conversas, o mar... Deixámos lá e não podemos voltar para ir buscar esses momentos. 

Apenas a memória nos devolverá a sensação que eu criança e tu jovem trintão. A memória e o aperto no peito... Lembro a espera. Lembro tão bem a espera. Sabes, pai, se há coisa de que me lembro em criança é da espera? De te esperar sem que viesses. E, quando vinhas, da cabeça fora da janela do carro e do vento que me embaraçava os cabelos e me secava a boca. E do vento, pai. Lembro-me bem do vento. E da tua voz entre o vento...

 

Pois é, pai, sessenta anos e eu quase quarenta. E vidas deixadas lá atrás, amarradas a lembranças que esgotámos e fizemos renascer quase puras. Porque o que deixámos antes, ficará para sempre guardado nas nossas memórias e ressuscitará em quadradinhos de afecto embrulhados em papel celofane que ofertaremos um ao outro em dias de anos. Como este.

 

publicado às 17:49

Troca de Garlaitinhos

por Mammy, em 30.06.14

J. a ver fotos na máquina do pai.

- Tchiii, adoro esta! E esta. E esta. Eh pai, tiras fotos espectaculares! Não sei como consegues tirar sempre fotos tão boas...

O pai olha-o com cara de "estás-me a dar graxa, estás".

- Não, pai, isto não é troca de garlaitinhos! É a verdade!

- Troca de quê?

- Garlaitinhos.

- De quê?

- Troca de garlaitinhos.

- Ah, troca de galhardetes?!

- Pois... Mas não é!

 

 

Imagem DAQUI

 

publicado às 00:14

Coração Elástico

por Mammy, em 26.06.14

Cheguei à conclusão que o meu coração é elástico. 

Com os anos, vai-se a elasticidade da pele, mas fica a do coração. Melhora a do coração. Com a idade, tenho aprimorado a capacidade de encolher e esticar o coração num, cada vez, menor espaço de tempo. 

Numa questão de segundos, o órgão que me comanda as pulsações passa de minúsculo a enorme. Ora me ocupa o peito todo e ainda me sobra para a barriga e pescoço, ora tenho que o procurar duvidando se não se perdeu por algum vaso sanguíneo. 

 

Não digam a ninguém, mas ando desconfiada que a culpa desta elasticidade cardíaca é do meu filho... À medida que vai crescendo e saindo debaixo das minhas saias e asas, o meu coração intensifica os exercícios de estica/encolhe, estica/encolhe. 

Volta e meia, o puto faz algo grandioso (sim o meu filho faz muitas coisas grandiosas) e o meu coração deixa de caber em mim. Meia volta e uma, está longe da saia e da asa e eu de rabo para o ar à procura de um coração minúsculo que me saltou do peito.

 

Dizem as más-línguas que isto não fica assim, que quanto mais os filhos crescem, mais os corações dos pais se exercitam e ficam qual fanático do desporto. 

 

Oxalá se enganem...

 

DAQUI

publicado às 19:23

De Capa e Espada. Ups, não! De Capa e Fitas.

por Mammy, em 10.06.14

Por influência dos pais, o J. disse que não queria capa com fitinhas de finalista do quarto ano. Disse que não gostava, que não queria porque não queria. Pronto.

A mãe, cheia de peso na consciência de fazer a criança ter estes arranques de personalidade de quem está sempre do contra, pergunta:

- Tens a certeza? Não queres mesmo a capa?

- Não, mãe, não quero. Aquilo é uma parvoíce!

- Mas no fim da festa de finalistas, vão dar a capa a todos os meninos e tu vais ser o único que não tens. Não vais ficar triste?

- Não, mãe, qual é o problema? Aquilo não tem piada nenhuma...

- Mas vão chamar cada um de vocês ao palco para entregar a capa e a ti não vão entregar nada. Tens a certeza que não queres que eu compre as fitas?

- Tenho, mãe, já disse que não quero!

- Então, quando fores grande e andares no psicólogo, não me venhas cá culpar de não teres uma recordação do quarto ano, ok?

- Pronto, mãe, está bem, compra lá as fitas!

publicado às 23:23

Liderança

por Mammy, em 08.06.14

DAQUI

 

Há pais que aspiram ter filhos líderes, que saibam comandar, que se sintam à vontade em qualquer ambiente, que brilhem sempre, que mobilizem multidões. Há pais que tentam que os filhos frequentem todos os ateliers, actividades, ou workshops para adquirirem, entre outras, capacidades de liderança.

 

Nós não somos desses pais. Mas o nosso filho é desses filhos.

 

O sacana do rapaz é um líder nato. E, ao contrário dos pais que querem filhos líderes, nós não ficamos inchados quando o vemos a comandar as tropas, ficamos assim como que envergonhados. Não gostamos de o ver a querer mandar nos outros, achamos que é um pouco prepotente.

Quando lhe dá para brilhar e destacar-se num qualquer espectáculo escolar, não nos esticamos, para quem procura os pais daquele miúdo nos encontrar, mas encolhemo-nos e tentamos esconder-nos um atrás do outro para que não nos descubram. Somos uns pais mais recatados do que o filho e a exposição pública incomoda-nos. Mas o miúdo gosta de dar nas vistas e, ainda por cima, tem jeito, o que, por outro lado, nos deixa orgulhosos quando faz das suas "gracinhas". Ficamos assim como que orgulho-envergonhados. O que é lixado, pois não sabemos muito bem como reagir a este mix de sentimentos.

 

Apesar de nunca aspirarmos um filho líder, o miúdo é líder e até é um bom líder... Não entra muito naquelas cenas parvas de gabarolice, consegue mobilizar um grupo de miúdos pela causa que defende e leva-os a darem o melhor si próprios (o que me parece uma boa qualidade num líder).

Como líder e como quem gosta de dar espectáculo, o puto está sempre no centro das atenções (quando não está, faz por estar), facto este que nos deixa demasiado expostos para o nosso gosto e que faz com que ele vá criando inimizades com outros miúdos que também pretendem a liderança e com que alguns dos pais desses miúdos se aproximem de nós cheios de falsidade e de segundas intenções. (Como se serem nossos amigos, fizesse com que o nosso filho deixasse o deles liderar... Ah ah ah! Se pensam assim, além de falsos e mal-intencionados, também são um bocado ingénuos...)

 

E pais destes põem-me a pensar na tristeza de sociedade em que vivemos, onde os pais se esquecem que os filhos são pessoas a respeitar que têm de encontrar o seu lugar nos grupos por onde vão passando, e no mundo, e que têm de perceber onde se sentem melhor e onde querem estar, e nem todos se sentem bem a liderar ou é isso o que desejam. Se não é na função de líder que se sentem bem porque insistem os pais em torná-los líderes? Porque não os ajudam a procurar o seu lugar em vez de os obrigarem a tomar posições que os deixam desconfortáveis? Nós também tivemos que nos resignar ao papel de destaque que o J. gosta de desempenhar e não o obrigámos a ficar numa posição mais discreta que seria bem mais confortável para nós.

A imagem destes pais faz acentuar o fosso que há entre nós, pais do J., e a maior parte dos seres que educam crianças neste mundo, o que faz com que também se acentue o fosso que vai nascendo entre o nosso filho e a maior parte dos colegas e que tornará tudo isto a que chamamos vida bem mais difícil para ele.

E nesta altura, penso que as dificuldades também nos fortalecem, deixo para trás todas as outras dúvidas, volto à pergunta "O Que Desejamos Para os Nossos Filhos?" e agarro-me ao

 

"QUE SEJAM FELIZES!".

publicado às 02:22


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