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Aqui, fala-se de filhos e de tudo o resto...
Uma multidão cerca-nos. Olhamos em volta e só caras desconhecidas. Tentamos decifrar expressões, ler pensamentos, ver para além das expressões e dos pensamentos.
E nada.
Fechamos os olhos e inventamos histórias para as caras que se gravaram na nossa mente. Imaginamo-las íntimas entre elas, a amarem-se e odiarem-se num quotidiano monótono em que as conseguimos ver a acordar, a lavarem-se, a vestirem-se, a comer, a abandonarem-se.
Caras estremunhadas, caras desconhecidas estremunhadas. Abandonadas.
Somos nós que as rodeamos agora. Tal predador em volta da presa, cheiramo-las, inspiramos-lhes o odor até nos inebriarmos de fome e nos fixarmos na ideia de as devorar.
Num salto, atacamos-lhes o pescoço da alma e sorvemos-lhes a essência. Sugamo-las por inteiro até as possuirmos. São nossas. São nossas.
É a partir deste momento que as podemos estampar numa folha de papel e escrevê-las, desenhá-las, apagá-las e reescrevê-las novamente a nosso bel-prazer. São nossas.